Localização
Freguesia: Vera Cruz
Rua/Lugar: Estação de Caminhos de Ferro de Aveiro (todas as fachadas e sanitários)
Local Original: Sim
Identificação
Designação: Painéis azulejares da Estação da Caminhos de Ferro de Aveiro
Data de colocação: 1916; 1986; 2000
Efeméride:
1916 - Por ocasião das obras de remodelação da estação, inserindo-se numa política da Companhia de decorar as suas gares
1986 - Homenagem das Câmara Municipais relativamente à comemoração do 75º aniversário da via férrea: Albergaria–a–Velha, Sernada, Águeda, Aveiro
2000 - Remodelação dos sanitários
Promotor
Nome/Instituição: Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes, actual CP
Caracterização
Autores:
1916 = Licínio Pinto e Francisco Pereira
1986 = Breda
2000 = F. Lista
Oficina: Fábrica da Fonte Nova (1916); Viçorzette – Águeda (1986); Artecer – Vila Nova de Gaia (1999)
Materiais: Azulejos policromos (azul e amarelo)
Descrição
O edifício da estação é constituído por três sectores: um central, de três pisos apresentando três portas amplas ao nível do plano inferior; e dois laterais simétricos, de dois pisos, com uma porta e dois postigos de secção rectangular. Obedece a uma gramática estilística que se designa por “casa portuguesa”, sendo um bom exemplar ao nível regional. Mas, mais do que a arquitectura, é a azulejaria que torna o edifico notável. Este, apresenta uma riquíssima colecção de painéis de azulejos que revestem as paredes das suas fachadas. O seu objectivo é, não só, ilustrar as fachadas do edifício, mas também transmitir, através de um discurso visual de leitura fácil e assegurada (Calado, 2001, p.245), os principais monumentos culturais da região e do país aos viajantes e utentes em geral que por ali passam. Deste modo, entre os principais painéis encontram-se essencialmente, motivos etnográficos e monumentais, tais como: figuras, fainas e paisagens tipicamente características da região; as armas da cidade; figuras ilustres que contribuíram para a construção da linha ferroviária, monumentos de carácter regional e nacional.
Listagem de painéis:
Fachada Oeste (voltada para a Avenida):
-
- Medalhão com embarcação;
- Pórtico do Senhor das Barrocas;
- Medalhão do José Salamanca;
- Medalhão com o Farol da Barra;
- Vindimas em Anadia;
- Chegada d’um Barco de Pesca – S. Jacinto;
- Marinhas de Sal de Aveiro;
- Margens do Rio Vouga;
- Trecho da Ria de Aveiro;
- Entrada do Jardim – Aveiro;
- Tricana em 1916 – Aveiro;
- A Peixeira – Aveiro;
- O Pescador – Aveiro;
- Tricana em 1870 – Aveiro;
- Farol da Barra – Aveiro;
- Ponte do Poço de S. Thiago - Valle do Vouga;
- Palace Hotel Bussaco;
- Museu Regional – Aveiro;
- Aveiro nos princípios do século XVIII;
- Trecho da cidade – Aveiro.
Fachada Este (voltada para a linha férrea):
-
- Trecho do Vouga
- Mosteiro de Alcobaça;
- Castelo da Feira;
- Saída para o mar d’um barco de pesca (Furadouro);
- Trecho da Ria de Aveiro;
- Buçaco – Monumento da Batalha;
- Castelo de Almourol;
- Igreja da Misericórdia;
- Medalhão do Manuel Firmino;
- Armas da Cidade;
- Ponte da Rata – Eirol;
- Costa Nova;
- Painel comemorativo dos 75 anos da linha férrea do Vouga.
Fachada dos Sanitários:
-
- Canal Central da Ria de Aveiro;
- Palheiros da Costa Nova.
Historial
A estação de Caminhos de Ferro de Aveiro, tal como a conhecemos actualmente é relativamente recente, no entanto o seu historial conta com mais de um século.
Foi graças às insistências do deputado José Estevão que se deu a alteração do percurso da via férrea previsto para ligar Lisboa ao Porto.
O projecto inicial de Waitier (1856) não contemplava Aveiro, mas o tribuno conseguiu que o governo estudasse um novo traçado no sentido da cidade continuar a acompanhar o progresso dos tempos modernos (Oliveira, 2001). As obras da linha férrea iniciaram-se, assim, em Agosto de 1861 e, em princípios de 1862, as do edifício da estação.
Apesar de ter conseguido que a linha do Norte passasse por Aveiro, José Estevão não conseguiu assistir à inauguração do troço ferroviário. De facto, a inauguração deste deu-se a 10 de Abril de 1864, durante a presidência de Manuel Firmino, seguindo-se, no dia 16 de Maio, a transladação dos seus restos mortais, por via férrea, para o cemitério da cidade.
Por esta altura, não havia casa da estação, mas simplesmente “a gare”, um edifício pequeno e singelo. Em princípios do século XX, esta acabou por se mostrar insuficiente resultado de um crescente movimento ferroviário, obrigando à transformação e alargamento do edifício, tal como o conhecemos hoje. Essa transformação decorreu durante o ano de 1915 e, no ano seguinte, à semelhança do que estava a acontecer, também, noutras estações ferroviárias, as paredes do edifício foram revestidas com painéis de azulejo alusivas a paisagens, motivos etnográficos e monumentais característicos não só da região aveirense, como também de vários pontos do país.
Licínio Pinto e Francisco Pereira, pintores da Fábrica da Fonte Nova, foram os autores destes painéis que, entre si, resolveram dividir a execução dos mesmos.
Ao contrário do que seria de se esperar, a colocação de painéis azulejares no edifício da Estação de Caminhos de Ferro de Aveiro foi alvo de grande polémica nos jornais locais chegando mesmo a originar um processo de tribunal. Numa primeira fase, a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses além dos painéis acima descritos, pretendia representar, lado a lado, as figuras de José Estevão e Manuel Firmino, visto ambos terem o seu nome ligado à construção da estação de comboios na cidade. Ao primeiro deve-se o facto da linha férrea passar por Aveiro, enquanto que ao segundo se deve a abertura da primeira comunicação que a cidade teve com essa mesma linha e a inauguração da estação. Depois de grandes controvérsias entre a família de Manuel Firmino e os apoiantes de José Estevão, em Março de 1916, ficaram assentes o painel de Manuel Firmino, na fachada voltada às linhas férreas, e, em vez do José Estevão, a de D. José de Salamanca y Mayol, concessionário das obras da linha do Norte.
No ano de 1986, durante as comemorações do 75º aniversário da abertura da via férrea que abrange as cidades de: Albergaria – a – Velha, Sernada, Águeda e Aveiro, foi colocado um novo painel de azulejo, assinado por Breda.
Recentemente, no ano de 2000, aquando a remodelação das instalações sanitárias da estação, foram colocados dois outros painéis da Fábrica Artecer (Vila Nova de Gaia), cujo o autor é F. Lista.
Bibliografia
Neves, A. (1984). Aveiro, História e Arte. Aveiro: ADERAV. pp.176-178.
Aveirana, (2004). A estação de Caminhos de Ferro. URL: http://aveirana.doc.ua.pt/ecferro.htm [conferido a 30/09/04]
Oliveira, R. M. (2001). O Discurso da Cidade – Leituras da Avenida Lourenço Peixinho. Aveiro: Câmara Municipal de Aveiro – Pelouro da Cultura. pp. 39 – 42.
Calado, R. S., Almeida, P. V. (2001). Aspectos Azulejares na Arquitectura Ferroviária Portuguesa. Caminhos de Ferro Portugueses, EP
Gomes, M. (1899). Subsídios para a História de Aveiro. Aveiro: Typographia do “Campeão das Provincias, pp. 138 – 251.
Sempre Rodilhões, O Democrata, Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 1916, p.1.
Freguesia: Vera Cruz
Rua/Lugar: Estação de Caminhos de Ferro de Aveiro (todas as fachadas e sanitários)